
18 jul Crônica – A moça de amarelo
Crônica – A moça de amarelo
Enquanto Rosa reclamava, como sempre, sobre seus colegas e a rotina de trabalho, os pensamentos de Cleber e Jorge vagavam cada um em uma direção.
Eles tinham mudado o horário que paravam para fumar um cigarro para mais tarde, para conseguir escapar do “Diário de Notícias”, que era como eles chamavam Rosa. Hoje, não teve jeito. Calhou no horário do cafezinho dela. Eles saíam para fumar na calcada, e ela ia atrás.
Lá não era a melhor empresa do mundo, mas os salários eram melhores do que se podia esperar no mercado de trabalho atual.
Muita gente estava lá há anos e morria de medo de enfrentar outros desafios. Várias pessoas, estavam insatisfeitas com muita coisa, mas o máximo que faziam, era reclamar.
— Vocês acham que isso é justo? Essa fresquinha chegou há pouco tempo e já quer mudar tudo. Eu não vou com a cara dela… — reclamava Rosa.
A fresquinha, era a Júlia, a nova assistente de Marketing. Ela tinha morado fora do país, feito vários cursos de especialização, aprendia guitarra e fazia escalada aos finais de semana. Ela não era fresca, era ativa e feliz.
Rosa emendava uma reclamação atrás da outra, e mesmo com a baforada de fumaça que o Cléber dava na cara dela toda hora, não parava de falar.
Os pensamentos deles continuavam cada um para um lado e só se cruzavam quando se olhavam indicando que não aguentavam mais a Rosa. Num desses olhares, Cléber percebeu que Jorge se perdeu, “encantado” por algo se movendo na calçada, vindo na direção deles. Quando olhou, compartilhou com o amigo da mesma contemplação: era uma moça de vestido amarelo, longo, nem justo, nem largo, que só deixava a mostra os ombros e braços dela.
A moça, não estava muito maquiada e seus cabelos marrom, compridos e lisos, estavam divididos ao meio.
Teoricamente, ela não tinha nada de especial. Era uma beleza “normal”, mas mesmo assim, eles a acharam linda.
Seus passos eram firmes, porém não apressados. Ela, por sua vez, estava tão inerte em seus pensamentos, que nem percebeu os três ao passar por eles.
Os dois amigos a seguiram com os olhos, virando a cabeça para a contemplarem ainda mais, e só então Rosa percebeu que eles não acompanhavam o seu discurso.
Uns segundos de silêncio surgiram para seguir o cortejo da Moça de amarelo, que seguiu seu caminho.
Um meio sorriso em seu rosto, indicavam uma felicidade serena. A moça, simplesmente estava feliz!
Rosa, estragou o momento criticando-a, o que irritou Jorge:
— Como você consegue criticar alguém que nem conhece? Reclamar e falar mal dos seus colegas e da sua vida, até entendo, mas de uma desconhecida? — Ele apagou o resto do cigarro e entrou irritado.
— Credo! O que deu nele? Eu só estava falando que ela estava rindo igual uma boba! — Retrucou Rosa.
Cleber, também de saco cheio dela, resolveu responder ironicamente:
— Do que ela estava sorrindo, nunca saberemos. Mas, uma coisa é certa, ela estava claramente sendo aquilo que você nunca está.
— Eu nunca estou o que? Do que voc…
Ele a interrompeu:
— Feliz!
Cléber entrou deixando a colega para trás, e contagiado por algo que a moça lhe deu pelo resto do dia. Ele entrou sorrindo.
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