27 maio Hannah no céu dos cachorros
Ela chegou um dia na família e começou a fazer parte dela.
Era a novidade. Linda e loira. Toda cabeluda, parecendo uma bolinha de pelo.
Foi ganhando popularidade por ser a única, foi tomando o espaço dela e se tornando uma rabujentinha.
Como ela era linda! Ela sempre foi muito linda. E muito mimada.
Foi tão mimada que fazia o que queria. Era chata pra caramba também. Talvez por ser mimada, e linda.
Apesar de toda sua chatice, era muito amada.
Todo mundo fazia carinho, brincava.. Não. Brincava não porque era tão chata que não gostava de brincar.
Por muitos anos, quando minha irmã, a dona escolhida por ela saía, ela ia pegar uma peça de roupa dela para tomar conta. E ai de quem tentasse tirar a peça das patas dela. Recebia um rosnado e talvez até uma mordida.
A mesma coisa era com a comida. Ninguém chegava perto sem levar uma rosnada e uma latida brava. Ta bom, era dela. Ninguém queria comer aquele troço ruim, mas ela tinha que tomar conta.
Daí vieram os filhotes. Foi difícil algum cachorro ganhar seu coração. Foram muitas tentativas até ela deixar-se engravidar.
Seus filhotes saíram lindos também, mas não tanto quanto ela.
Uma das cadelas mais lindas e mais chatas que já conheci. Sem dúvida uma das mais belas misturas de poodle com cocker.
Uma vez fui até a casa da minha irmã dar comida a ela, já que todos estavam fora de casa. Coloquei a chave do carro em cima da mesa até que fazia tudo que eu precisava. Quando terminei, cadê a chave? Estava no meio das patinhas dela, no sofá – ela adorava nos desobedecer e deitar no sofá. Ela me olhava com cara de quem não sabia o que estava acontecendo. Quem disse a ela que se eu não achasse a chave não teria como ir embora e deixá-la sozinha novamente? Eu só consegui pegar a chave em troca de um pijama da minha irmã.
Uns anos atrás morei na casa deles, com minha Irmã, meu cunhado, a gata e a Hannah. E num certo mês eles tiraram férias e ficamos só nós três na casa. Além de querer dormir na minha cama todas as noites comigo, pois era assim que fazia com os seus donos, ela não me deixava me virar. Sim, ela se deitava nas minhas pernas e cada vez que eu me mexia, ela rosnava.
Acho que ela tinha tanto medo de ser abandonada, pois penso que ela achava que eles a tinham abandonado, que passava o dia inteiro atrás de mim. Tanto que passei a chamá-la de “sombrinha” naquele período.
Quando eles voltaram, ela nem ligou. Acho que quis dar um gelo para se vingar da longa ausência dos donos de quem nunca tinha se separado antes, durante anos.
Uma mania curiosa que ela tinha e que diga-se de passagem era extremamente irritante, era que muitas vezes estávamos todos sentado na sala em silêncio, vendo TV e ela disparava um latido alto, assustando a todos. Naquele momento todos esbravejávamos qualquer xingamento contra ela. Imediatamente depois voltava a dormir como se nada fosse.
Ah eram tantos casos e cenas engraçadas e até doces, que quando ela se for vai deixar muitas saudades.
Hoje ela está bem velhinha, já nos últimos meses de vida acreditamos. Já não se levanta mais sozinha, precisa de ajuda para fazer xixi, comer, dormir… é um ciclo da vida chegando ao fim. E vai chegar. O importante é saber que em toda sua existência, foi muito amada e bem cuidada.
Toda alegria que nos trouxe será sempre lembrada com muito carinho. E fico pensando se no céu dos cachorros, quando ela tiver aquele pelo lindo de novo e poder andar balançando o rabo do jeito que só ela fazia, se vai voltar a ser a mesma rabujentinha de sempre. Todos vão olhar para ela e dizer: nossa mas como ela é linda! Como sempre todas as pessoas faziam quando ela era a nossa Hannah, parte da família, aqui na terra!
*Ela se foi antes de esse texto ser publicado – 22/05/2015 – e é impossível não chorar…
Não abandone seu animal quando ele ficar velhinho e não puder mais passear ou brincar com você. Lembre-se que um dia você o desejou e que ele merece passar os últimos dias de sua vida sendo cuidado e amado, e não abandonado.
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